O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, afirma que as próximas eleições gerais, previstas para 2017, vão decorrer num momento em que o país “atingiu o seu ponto de saturação”. Parafraseando uma velha máxima do Galo Negro, é caso para dizer que o país vai de saturação em saturação até à saturação final.
“T odos sabem que a única saída é a mudança do regime. Por isso, o resultado desta eleição só pode ser a vitória da soberania nacional, a vitória da vontade nacional de mudança. Porém, nem todos estão a compreender isso. O povo soberano deve estar consciente de que o voto do cidadão é a expressão da soberania nacional”, referiu Isaías Samakuva numa reunião da Comissão Política.
Embora tenha razão, era bom que o líder da UNITA explicasse a esse povo soberano o que é que o seu partido tem, ou não, feito para merecer liderar essa mudança, sabendo-se que a filosofia da UNITA tem sido a de reagir devagar, devagarinho ou estar parada.
Segundo o líder da UNITA, cabe aos partido, congregar o povo para o exercício da soberania nacional, através do voto, e organizá-lo para a defesa dessa soberania, nos termos da Constituição. É isso. No entanto, pelos exemplos recentes (tentativa de manifestação contra a ilegalidade da nomeação de Isabel dos Santos para liderar a Sonangol) convém que esse esforço de congregar o povo se faça… antes das eleições.
“É agora, a partir do registo eleitoral, que iniciamos a garantia desse exercício. E se a Nação angolana for capaz de garantir eleições livres, democráticas e transparentes, a vontade soberana do povo prevalecerá, o que facilitará sobremaneira a mudança do regime de partido estado para o regime democrático”, acrescentou.
“É agora, a partir do registo eleitoral”)? E então, o que tem a UNITA andado a fazer desde as últimas eleições, conhecida e sentida que é a crise do país e os níveis de saturação da sociedade? Tem andado, tanto quanto parece, a tentar agradar a gregos e troianos o que, no caso de angola, significa agradar ao povo sem hostilizar o regime feudal que o transforma em escravos do reino.
De acordo com o mais alto dirigente da UNITA, mudar Angola hoje significa resgatar a Pátria e os valores da identidade angolana. Mais vale tarde do que nunca. Essa tese que Samakuva agora coloca na primeira linha é conhecida pelo menos desde 13 de Março de 1966, subscrita no Muangai.
“É preciso parar e pensar quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É preciso acabar com a promoção de falsos valores. É fundamental promover e proteger as nossas línguas, potenciarmos as nossas raízes e desenvolvermos a nossa cultura, para afirmarmos o multiculturalismo angolano”, defendeu Isaías Samakuva, sublinhando que “se permitirmos que a juventude permaneça sem referências da identidade angolana estaremos a abrir as portas ao domínio de Angola por outros povos”.
É obra. Samakuva leu, ou releu, os fundamentos básicos e ainda hoje mais do que actuais saídos do Muangai. Pena é que, como tem acontecido desde 2002, rapidamente os volte a guardar na gaveta.
“Mudar Angola implica reformar o Estado, reformar no plano orgânico, estrutural e funcional”, avançou, ainda o líder da UNITA, precisando que a reforma do Estado que o seu Partido preconiza é orientada por uma nova cultura de governação e de intervenção do Estado nas relações privadas.
“Os ingredientes desta cultura incluem o respeito pela dignidade humana, a motivação para servir com sentido de responsabilização e, acima de tudo, a primazia do cidadão sobre o Estado. Porque o Estado não existe sem o cidadão. E só existe para servir o cidadão, proteger o cidadão e dignificar o cidadão”, prosseguiu o líder da UNITA, acrescentando que a reforma que preconizada pelo seu Partido vai afirmar o carácter laico do Estado, vai garantir o fim da instrumentalização das Igrejas e da promoção ou protecção de práticas de extorsão mascaradas de religiosidade.
Para Isaías Samakuva, mudar Angola é promover investimentos massivos na nutrição e educação das crianças e dos jovens, é reestruturar a economia e o sistema de educação para desenvolver e tornar próspero o angolano.
“Mudar Angola é potenciar a juventude e transformá-la em capital humano, construindo assim os fundamentos para a consolidação da Nação”, continuou Samakuva.
Referindo-se ao 41º aniversário da independência de Angola celebrado recentemente, o líder da UNITA entende que o tempo percorrido seria suficiente para tirar-se lições que nos ajudariam a caminhar de uma forma prudente, tranquila e visionária, rumo ao futuro.
“Temos de analisar porque é que de um lado nos falam da necessidade de processos transparentes e do outro lado as irregularidades continuam e aumentam. Porquê é que de um lado nos falam de melhorar o nível de vida das nossas populações, mas do outro lado a pobreza no seio das comunidades a pobreza aumenta”, apelou.
Sobre a situação económica que é difícil para a maioria das famílias, o Presidente da UNITA afirmou que temos de nos perguntar porque é que estabeleceram políticas económicas e sociais que lhes permitiram apoderar-se da riqueza de Angola e lançar a grande maioria dos angolanos no sofrimento e na indigência.
“Porque é que transformaram de facto Angola num país rico com 20 milhões de pobres! Um país onde o próprio Estado promove e protege a expropriação extra judicial dos terrenos e casas dos pobres, a mediocrizacão do ensino, o descaminho dos medicamentos e ajudas sanitárias destinados aos pobres, e o roubo da dignidade e da esperança dos filhos dos pobres. Um país onde o Estado promove a pobreza e combate os pobres ao invés de combater a pobreza”, questionou o líder da UNITA, que entende que “o povo amadureceu e percebeu que o Estado faliu e o País tem de tomar outro rumo”.
“Todas as pesquisas indicam que o povo das várias classes sociais pôde finalmente perceber a natureza neocolonial das políticas do MPLA. Percebeu também que a estrutura da economia política construída pelo MPLA é frágil, está prostituída e não tem sustentabilidade”, explicou, precisando ser sentimento geral da cidadania angolana que o mandato do MPLA chegou ao fim e não deve ser renovado.
Para Isaías Samakuva, chegou a hora da mudança e convidou os membros da Comissão Política a reflectirem sobre as formas de garantir transparência do processo eleitoral para que os resultados eleitorais venham reflectir, na realidade, a vontade do povo expressa nas urnas e que a vontade do Povo expressa nas urnas corresponda á mudança que todos reclamam.
“Estas e outras questões, ligadas ao reforço da organização interna do nosso partido, vão merecer a nossa atenção para que o Partido esteja devidamente preparado para fazer às eleições que se avizinham e para que todos nós nos mobilizemos para garantir a vitória em 2017 e mudar Angola”, garantiu o líder da UNITA.
Bom artigos e boas reflexões.